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Este espaço visa compartilhar experiências profissionais na assistência a saúde da criança, em particular, às vítimas de violência de toda ordem.
Considerando-se a grande diversidade e dinamicidade das expressões da questão social, a troca de vivências profissionais tem relevante papel no intuito de qualificação da assistência prestada e na construção do projeto ético-político sintonizado com os anseios de igualdade e de justiça social.
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Tereza Cristina

sábado, 19 de julho de 2008

Uma noite de Natal no Hospital Estadual Getúlio Vargas

Ato encenado pela equipe multiprofissional da enfermaria de Pediatria do Hospital Estadual Getúlio Vargas, durante a comemoração natalina voltada para as crianças internadas e seus acompanhantes.

Uma noite de Natal no Hospital Estadual Getúlio Vargas.
Por: Tereza Cristina Silva - assistente social

Dona Luiza, 29 anos, chegou às 19h10m do dia 24 de dezembro, no setor de Pediatria da emergência do HEGV, com sua filha Carolina, de 05 anos, com 39º de febre. Drª Márcia, após ver o RX, explicou que a criança precisaria ficar internada por estar com Pneumonia.

Drª Márcia:
Mãezinha, sua filha terá que ficar internada, pois está com Pneumonia.
Dona Luiza:
Como assim, Doutora? Tem que dormir aqui? E os meus filhos que estão sozinhos em casa?

Drª Márcia:
Mas, mãezinha, essa filha é quem está doente. E ela precisa de tratamento em hospital.
Dona Luiza:
Mas eu não posso deixar ela aqui sozinha. E nem tenho quem cuide dos que estão em casa. Eu tenho mais dois filhos. A Marcela de nove e o Yago de 8 meses. Eu já não pude comprar presentes e nem posso fazer uma ceia de Natal decente. Passei o dia fazendo faxina, mas o que ganhei é pra juntar pra pagar o aluguel. Ainda tenho que deixa-los sozinhos?

Drª Márcia:
Mãe, Pneumonia é uma doença séria. Não posso liberar a sua filha nesse estado.
Dona Luiza:
Ah, não Doutora! Me desculpe. Mas eu vou levar a minha filha pra casa. Se for pra ficar internada, eu prefiro cuidar dela em casa.
Drª Márcia:
Mas se a senhora levar a sua filha sem autorização médica, seremos obrigados a notificar ao Conselho Tutelar.
Dona Luiza:
Com respeito à senhora e ao Conselho Tutelar, mas quem sabe o que melhor pros meus filhos sou eu.
Drª Márcia pede a presença do Serviço Social, sendo atendida pela AS Marise, a qual passa a abordar a mãe.
AS Marize:
Boa noite, D. Luiza! Sou do Serviço Social e foi comunicada que a senhora não concorda com a internação da criança. Será que poderemos ajuda-la de alguma forma?
Dona Luiza:
Olha aqui, assistente social: eu não tenho medo de Conselho Tutelar por que não são eles que sustentam os meus filhos. Por acaso são os filhos deles que passarão o Natal sozinhos em casa, sem sequer uma ceia? Eu não tenho marido. Sustento os meus filhos sozinha. A Marcela, minha filha de 09 anos, que ainda é uma criança é quem fica com os dois menores pra eu ir trabalhar. Faço faxina de segunda a segunda. Aí vem vocês me falar de Conselho Tutelar?

AS Marize:
Entendemos suas dificuldades, Dona Luiza. Realmente, a internação de emergência causa esses transtornos. Principalmente quando não se tem outro familiar para se contar.

Gostaríamos que entendesse que o Conselho Tutelar não é a mesma coisa que “Juizado de Menores”. Ele é composto por membros da comunidade para garantir que os Direitos das crianças e adolescentes sejam cumpridos. O Conselho Tutelar também pode estar assistindo sua família, requerendo recursos do governo ou da comunidade para auxiliá-la a desempenhar o seu papel de responsável.
É preciso que entenda também que, apesar de mãe, a senhora não deve impedir que sua filha receba assistência médica, assim como não deve negá-la a usufruir qualquer um de seus direitos (saúde, educação, registro de nascimento...).
Dona Luiza:
Mas, assistente social, não tem ninguém que queira mais o bem dos meus filhos do que eu. O que posso fazer se essa é a vida que tenho?
AS Marize:
Não duvidamos disso, Dona Luiza. Mas, a senhora não está sozinha. Tem o direito a contar com o auxílio dos órgãos competentes. Acredito que poderemos tentar pedir a ajuda do Conselho Tutelar. Tem sempre um conselheiro de plantão. Eles atuam por 24 horas. Quem sabe eles não conseguem uma cesta básica para auxiliá-la? Também poderemos flexibilizar a rotina do hospital e autorizá-la a entrar na unidade mais tarde. Assim, a senhora poderia preparar a ceia para os outros filhos e retornar para ficar com a Carol. O que a senhora acha?
Dona Luiza:
Mas será que ela não vai chorar? Será que não vai se sentir abandonada?
AS Marize:
Apesar de pequenininha, Dona Luiza, ela confia na senhora. Se a senhora explicar a situação direitinho, ela vai entender. Vai saber que enquanto estiver ausente, estará preocupada com ela. E não terá dúvida que retornará.
A AS Marize entra em contato com o conselheiro de plantão e este consegue disponibilizar uma cesta básica, comprometendo-se a leva-la imediatamente à residência de Dona Luiza. O conselheiro orienta ainda que Dona Luiza seja encaminhada ao Conselho após a alta hospitalar para tentar inserir suas duas filhas menores em cheche. A AS Marize retorna e comunica suas providências. Dona Luiza aceita a sugestão da assistente social e vai em casa preparar a ceia para os outros filhos, retornando às 23 horas.
A nutricionista Eliane, em visita ao leito de Carolina, observa que um prato de rabanada sobre a cabeceira. Passa a orientar a mãe sobre a atitude inadequada em trazer alimento de casa para a paciente.
Nutr. Eliane:
Mãe, a senhora não deve trazer alimento de casa para sua filha, pois sua alimentação é parte do tratamento e deve ser indicada pelo setor de nutrição.
Dona Luiza:
Mas eu sou quis trazer um pouquinho da ceia de natal para Carol, já que a coitadinha tem que ficar aqui no hospital.
Nutr. Eliane:
Entendo, mãe. Mas a senhora pensa que está fazendo um bem, mas pode estar prejudicando o tratamento de sua filha. A alimentação da Carol durante a internação deve seguir a orientação médica.

Dona Luiza:
Peço desculpas. Eu já havia sido orientada. Mas, fiquei com pena e achei que só um pouquinho não faria mal.

Nutr. Eliane:
Mas, pode ficar tranqüila, mãe. Vamos tentar, na medida do possível, adaptar a dieta da Carol bem ao seu gosto e hábito.

A enfermeira Paula vai até o leito de Carolina e verifica que será necessário pulsionar novamente sua veia, já que o procedimento feito anteriormente foi corrompido.

Enf. Paula:
Mãe, vamos ter que pegar outra veia da Carol por que esta já se perdeu.

Dona Luiza:
Mas, não é possível! Antes de eu sair foi uma dificuldade para acharem a veia. Agora vai fazer tudo de novo? Ah, não! A minha filha já sofreu muito por hoje.
Enf. Paula:
Mas, mãe, é a única forma de medicarmos sua filha. A senhora não quer que ela melhore?

Dona Luiza:
Claro que eu quero! Mas não agüento mais ver minha filha sofrer. Deve haver outra forma de fazer essa medicação.

Enf. Paula:
Não, mãe. O tratamento deve ser feito assim.

Dona Luiza:
Minha filha não agüenta mais sentir dor. E eu já estou de cabeça quente. Não suporto mais ver isso.

Enf. Paula:
Entendemos seu desgaste, mãe. Mas a senhora precisa confiar no tratamento. É para o bem da sua filha. Acredito que deva estar fragilizada também por ser noite de Natal e não poder estar com sua família reunida. A senhora não desejaria conversar um pouco com a psicóloga? Quem sabe pode se sentir melhor?

Dona Luiza:
Mas, a senhora acha que eu preciso de psicóloga?

Enf. Paula:
Todos nós poderemos, em algum momento, nos sentir fragilizados e precisar de um apoio.

Dona Luiza concorda com a enfermeira e esta solicita a presença da Saúde Mental, sendo atendida pela psicóloga Leila.

Psic. Leila:
Boa noite, Dona Luiza! Meu nome é Leila. Como tem passado?

Dona Luiza:
Poxa, Dona Leila! Parece até que passou um furacão em minha vida. Eu cuido dos meus filhos muito bem. Nunca precisaram ficar internados. Faço tudo por eles. Agora estou aqui. Não sei se me preocupo com a doença da Carol; com os outros dois que estão em casa.; ou com a faxina que vou ter que deixar de fazer enquanto estiver aqui. Se, pelo ao menos, o pai delas ajudasse. Mas, não. Ele foi embora antes do Yago nascer.

Psic. Leila:
Mas, a senhora não é culpada pelo que está acontecendo. E não terá como resolver todos os problemas de uma vez. (.........)

Após algum tempo de abordagem, Dona Luiza sente-se menos ansiosa e agradece o apoio, dizendo:
Nessa noite eu aprendi várias coisas. A gente chega com medo de ser mal tratada, por ser hospital público. Mas, eu percebi que pode ser diferente.

A equipe de profissionais se abraça, enquanto a fonoaudióloga Jesus, como oradora, se dirige ao público e coloca, em nome da equipe, a mensagem de solidariedade, cidadania e humanização hospitalar. No final de sua fala, a fisioterapeuta Cristina, vestida de Papai Noel, entra na sala, ao som de fundo de música natalina.


Após a encenação do ato, a fisioterapeuta Cristina, vestida de Papai Noel, fez a entrega de presentes às crianças internadas, inclusive junto ao leito das crianças sem possibilidade de locomoção. Os brinquedos foram doados pelo comércio local.

A nutricionista Teresa, vestida de palhacinho, realizou recreação.

O evento foi encerrado com a distribuição de bolo, doado pelo comércio local e refrigerante, sob a supervisão da equipe de Nutrição.

Outras fotos:

3 comentários:

Bruna Pullig disse...

Olá, me interessei pelo projeto de "Uma noite de Natal no HEGV" e gopstaria de fazer isso esse ano, na noite de natal.
Algum projeto em mente? Algo que eu possa ajudar de alguma forma?
Meu nome: Bruna da Silva
E-mail: brunapullig@gmail.com

Rosita Godinho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rosita Godinho disse...

Gostei do projeto, há muito tempo que penso que eu posso fazer algo mais valioso nessa noite....
Estou interessada, quem sabe no natal de dezembro de 2011, possamos estar juntos com o verdadeiro espírito.
e-mail: rositagalante@hotmail.com